top of page
Buscar

Cerrado e o Ser Humano

  • Jennifer Perucci, Filipe de Lima, Felipe Peixoto
  • 8 de dez. de 2017
  • 7 min de leitura

O cerrado está presente em todo o Brasil central e alcança áreas de todas as regiões brasileiras, à exceção do sul. Devido à sua localização, funciona como uma “ponte” entre 3 grandes biomas presentes no Brasil: a caatinga, a mata atlântica e a Amazônia, além do complexo do pantanal. Abriga grandes mananciais subterrâneos e uma altíssima biodiversidade. Diante disso, trata-se de um tema de grande importância social e ecológica, visto que o bioma é duramente afetado por atividades econômicas relacionadas à agricultura e pecuária e é necessário que os estudantes tenham a dimensão do que está acontecendo com esse e outros ambientes naturais. O que aprenderem para o cerrado serve de exemplo para os outros biomas. Após refletir sobre o texto e quais conteúdos poderiam ser ensinados a partir do mesmo, decidimos criar uma sequência didática. Nosso foco será voltado para o cerrado, sua biodiversidade, a importância ecológica desse bioma, as principais ameaças atuais e estratégias de preservação.

 

Conteúdos a serem trabalhados:

-Ecologia;

-Biodiversidade;

-Biomas;

-Impacto ambiental;

-Estratégias de preservação e conservação;

-Decomposição e ciclagem da matéria;

-Germinação e dormência de sementes;

-Importância social e biológica do cerrado;

-Respeito à natureza.

 

Público alvo: alunos do 2° ano do ensino médio, entre 16 e 18 anos.

Recursos: Vídeo, Datashow, recipientes biodegradáveis, recicláveis e/ou descartáveis reutilizados (como copos de plástico), sementes de ipê e da palmeira Syagrus, água, pá de jardim.

 

Sequência de atividades

 

Leitura, discussão, vídeo e exposição sobre o cerrado

1) Ler o texto "Toda flor vira fruto? O caso de uma palmeira do cerrado, ameaçada de extinção" com os alunos:

 

Toda flor vira fruto? O caso de uma palmeira do cerrado, ameaçada de extinção

Nayara Vieira Trevisani, Denise Maria Trombert Oliveira

O cerrado é um bioma importante em Minas Gerais, ocupa mais da metade de seis estados brasileiros além de porções menores de outros seis estados. Encontram-se áreas muito diversas uma da outra, desde matas até campos sem nenhuma árvore. Há grande diversidade de flora e fauna, com muitas espécies que só ocorrem em determinadas áreas do cerrado, o que o caracteriza como bioma de alto endemismo. Todas essas peculiaridades colocam o cerrado entre os 25 hotspots mundiais de biodiversidade, o que chama atenção para a importância absoluta dessas áreas para a conservação.

Danos ambientais produzidos pelo homem colocam a diversidade biológica em risco. Muitas espécies do cerrado estão ameaçadas de extinção, como a palmeira Syagrus glaucescens, que só ocorre nos campos rupestres da Serra do Espinhaço, em afloramentos rochosos da Serra do Cipó até a região de Diamantina. As palmeiras têm forte papel ecológico no cerrado, pois seus frutos constituem importante fonte nutricional para a fauna, principalmente nos períodos de seca, o que aumenta a importância do conhecimento deste grupo.

Existem duas estratégias para a preservação de espécies de plantas, a conservação in situ, que consiste na preservação dentro da área de ocorrência natural da espécie, e a conservação ex situ, que é a preservação fora do habitat natural, por exemplo em jardins botânicos. Os dois métodos podem ser complementares e estudos que envolvem a reprodução das espécies ameaçadas são importantes para ambos.

Aqui na UFMG, estamos iniciando um projeto que inclui observações ex situ de fenologia reprodutiva de Syagrus glaucescens, realizadas em coleção viva no Inhotim, que já indicaram baixa produção de frutos maduros. Em estudos de fenologia in situ realizados na Serra do Cipó, encontrou-se maior número de indivíduos frutificando, porém não se sabe quantos indivíduos chegam à maturação dos frutos. Muitos estudos apontam baixo sucesso reprodutivo em palmeiras, sendo o aborto de flores e frutos jovens muito comuns no grupo. Levando em consideração o gasto energético por parte da planta-mãe para a produção destas estruturas, torna-se importante a investigação detalhada sobre o que acontece nesses casos. É o que este projeto pretende responder!

Nayara V. Trevisani e Denise M. T. Oliveira (2016) Toda flor vira fruto? O caso de uma palmeira do cerrado ameaçada de extinção. IX Workshop do PPGBV-UFMG. Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Federal de Minas Gerais. Retirado de http://pos.icb.ufmg.br/pgbot/ em 11/11/2017.

 

2) Em seguida, levantar a questão: “Para vocês, o que é o Cerrado? ”

Essa questão será usada para captar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema. Desejável que os estudantes falem e o professor use esses conhecimentos prévios nas aulas.

3) Apresentação do vídeo “Você conhece o cerrado?” publicado pelo canal da WWF-Brasil no youtube:

Neste vídeo, já é explorada a situação atual do cerrado e algumas de suas importâncias ecológicas e sociais.

4) Exposição, pelo professor, das principais características do cerrado, sua importância para o Brasil e ameaças que sofre. É recomendável uma apresentação de slides simples, com imagens para contribuir na aprendizagem (esta apresentação pode ser disponibilizada para eles, como material de estudo):

Cerrado: A savana Brasileira

É caracterizado como um bioma tropical que possui duas estações no ano, uma muito quente e seca e outra chuvosa. O solo é predominantemente muito fértil, a vegetação mais abundante são as gramíneas podendo encontrar árvores com o tronco retorcido, como jatobá, acácias, ipês, quaresmeira, pequi, canela-de-ema, dentre outras.

A fauna desse bioma é muito rica, alguns exemplos: Antas, ariranhas, tamanduás, lobos-guará, onça-pintada, tatu-canastra, águia-cinzenta, cachorro-do-mato-vinagre, araras etc.

O cerrado é um bioma de várias fitofisionomias. Tipos de Savanas que ocorrem no Cerrado, segundo o IBGE:

  • Savana Florestada (Cerradão)

  • Savana Arborizada ou Sentido Restrito (Campo Cerrado, Cerrado Ralo, Cerrado Típico e Cerrado Denso)

  • Savana Parque ou Parque Cerrado

  • Formações Campestres (Campo-Limpo, Campo-Sujo e Campo Rupestre)

Além do aspecto natural, o Cerrado tem também um aspecto social muito forte, sendo que muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais e se tornou parte da cultura brasileira, por exemplo: populações indígenas que contribuem amplamente com sua cultura do uso de plantas medicinais. Infelizmente, todo esse gigantesco potencial econômico, social e de grande diversidade corre um sério perigo de ser dizimado.

Principais ameaças a esse ecossistema: Pastagens plantadas e culturas anuais, pecuária, erosão dos solos, invasão biológica de gramíneas de origem africana e fogo criminoso.

Ao final da aula, o professor deve explicar a seguinte atividade: os alunos terão que propor alguma forma de conservação desse bioma, pensando em como pressionar o governo sobre a importância de conservação do Bioma Cerrado, ajudar ONGs com projetos de conservação e/ou preservação, etc. Esta tarefa será entregue no relatório final.

 

Prática de plantio de semente de palmeira nativa do Cerrado

É uma forma de sensibilizar os estudantes acerca da importância do cerrado que foi estudada na aula anterior. É importante que o professor faça essa ponte, entre esta atividade e a aula anterior, por meio de um discurso que incentive a conservação e a preservação do meio ambiente. Eles serão levados para um local apropriado da escola para esta atividade, como uma pequena horta ou jardim.

1) Prática:

- Produção de terra vegetal;

- Húmus de minhoca ou compostagem;

(Aqui, o professor pode citar a importância ecológica da decomposição e a ciclagem da matéria resultante).

- Vasilhas recicláveis, devidamente furadas:

  • Encher a vasilha com terra;

  • Colocar a semente e cobrir com +- 1 cm de terra;

  • Regar todos os dias;

As sementes não germinam 100% e, muitas vezes, devem ser previamente preparadas para a quebra da dormência, por exemplo por um processo de escarificação mecânica, estratificação a frio, ou mesmo por simples embebição em água por algumas horas. Os frutos de palmeira devem ser despolpados manualmente logo após colhidos, as sementes secas e então escarificadas (por exposição a ácido sulfúrico por cerca de 1 minuto ou abrasão sobre uma superfície áspera). Este processo também pode ser realizado pelos alunos.

Obs: é importante lembrar que a germinação pode demorar bastante.

(O professor pode abordar o processo de germinação das sementes e o conceito de dormência).

Dormência: atraso na germinação, quando uma semente, mesmo em condições de temperatura, luz, umidade e oxigênio adequadas, não germina. Isso ocorre de forma que a semente germine na época certa, de acordo com a espécie e com o ambiente em que ela vive.

Causas da dormência em sementes:

-Tegumento impermeável: sementes com casca dura, que não conseguem absorver água e oxigênio;

-Embrião fisiologicamente imaturo e rudimentar;

-Substâncias inibidoras da germinação;

-Embrião dormente;

-Combinação de causas.

Como superar a dormência de sementes?

-Escarificação química- exposição da semente a ácidos (sulfúrico, clorídrico, etc);

-Escarificação mecânica- abrasão das sementes sobre uma superfície áspera;

-Estratificação- tratamento úmido à baixa temperatura (água fria);

-Choque de temperatura- amplitude de 20°C num período de 8 a 12 horas;

-Água quente- imersão das sementes em água a 76 a 100°C.

- As sementes usadas para esta atividade podem ser as da própria palmeira Syagrus e de outra planta nativa do cerrado, como o Ipê.

Obs: o acompanhamento da germinação destas sementes pode ser útil para outras aulas sobre plantas e para retomar e revisar os conceitos aprendidos nas últimas aulas.

Quando as mudas tiverem um tamanho suficiente (meses depois), o professor, juntamente com os alunos, pode plantá-las na própria escola ou nas redondezas.

3) O professor deverá explicar aos estudantes do relato que deverão fazer.

 

Método de avaliação previsto:

  • A participação do aluno durante as aulas.

  • Relatório final daquilo que foi ensinado nas 2 aulas e relato.

Relatório técnico do conteúdo das aulas: será entregue ao final das 2 aulas, onde terá a atividade proposta na aula 1 e o relato final sobre como essas aulas contribuíram para seu aprendizado, informando pontos positivos e negativos e o que aprendeu.

 

Referências bibliográficas:

TREVISANI, Nayara V. OLIVEIRA, Denise M. (2016) Toda flor vira fruto? O caso de uma palmeira do cerrado ameaçada de extinção. VIII Workshop do PPGBV-UFMG. Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Federal de Minas Gerais. Retirado de http://pos.icb.ufmg.br/pgbot/ em 11/11/2017.

CENTRO DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DOS CERRADOS. Fitofisionomias do bioma Cerrado. Cap.3. Pág 91 - 166.

CNCFlora. Syagrus mendanhensis in Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de Conservação da Flora. Disponível em <http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-br/profile/Syagrus mendanhensis>. Acesso em 10 Novembro 2017.

FERNANDES, Fernando M. Faveiro-de-Wilson: O desafio de preservar uma árvore rara e ameaçada de extinção. Sociedade dos amigos da Fundação Zoo-Botânica. Disponível em: http://www.amigosdazoobotanica.com.br/?pg=projeto&id=14 / Acesso em 10/11/2017 11:39.

KLINK, Carlos A. & MACHADO, Ricardo B. A conservação do Cerrado brasileiro. MEGADIVERSIDADE, Volume 1, Nº 1, Julho 2005.

PAULA, Rogério Cunha de. et al. Avaliação do Risco de Extinção do Lobo-Guará Chrysocyon brachyurus (ILLIGER, 1815) no Brasil. Bio Brasil: Biodiversidade Brasileira Revista Científica. 2013. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/revistaeletronica/index.php/BioBR/article/view/381 / Acesso: 10/11/2017 11:45.

Syagrus in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB44824>. Acesso em: 10 Novembro 2017

INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS FLORESTAIS. Disponível em http://www.ipef.br/tecsementes/dormencia.asp. Acesso em 5 dez. 2017

 

Atividade proposta pelos alunos Jennifer Perucci, Filipe de Lima, Felipe Peixoto, Luiz Henrique Virgílio Xavier, Igor Roberto, Wellington das Chagas Mendes, Paulo Vitor Paiva Ribeiro, Lucas Rodrigues, Leonardo Paiva Correa, na disciplina Laboratório de Ensino em Botânica, da Universidade federal de Minas Gerais, em novembro de 2017, ministrada pelos professores Bruno Garcia Ferreira e Rosy Isaias.

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo
Conhecer para conservar

A seguinte atividade foi criada utilizando-se do texto “Conhecer para conservar: o papel do taxonomista na conservação da...

 
 
 

Comments


Laboratório de ensino de botânica

Este espaço foi criado com intuito de trazer as produções científicas e acadêmicas da universidade para o espaço público e para o uso por professores da Educação Básica.

As atividades aqui propostas são criadas por alunos de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFMG e baseadas em produções de alunos da Pós-Graduação em Biologia Vegetal.

Este site foi criado por iniciativa da profa. Rosy Isaias e prof. Bruno Garcia Ferreira, da disciplina Laboratório de Ensino de Botânica do Departamento de Botânica da UFMG.

  • Facebook B&W
 POSTS recentes: 
 procurar por TAGS: 
bottom of page